A batalha dos transportes devido a Covid-19 (Angola enfrenta estes Problemas)
A capital do país tem pouco menos de 20 mil táxis e 420 autocarros públicos, para uma população estimada em mais de sete milhões de habitantes, na maioria sem carro próprio.
Segundo dados do Gabinete de Tráfego e Mobilidade do Governo Provincial de Luanda (GPL), antes da Covid-19, pelo menos dois milhões e meio de passageiros/mês eram transportados em autocarros públicos.
O sector de transportes do GPL estima que mais de três milhões de pessoas/mês sejam transportadas na cidade, em autocarros públicos, sublinhando que o desconfinamento faz aumentar a pressão dos passageiros.
Conforme estimativas das autoridades locais, a província tem necessidade de pelo menos sete mil autocarros na via, para reduzir o impacto da falta de transportes públicos urbanos.
São milhares os trabalhadores e outros cidadãos que dependem, todos os dias, dos transportes públicos, e enfrentam "batalhas" em apinhadas paragens para conseguir se locomover.
Em Luanda, o "frenesim" nas paragens vem se intensificando desde o aligeiramento das medidas restritivas do Decreto Presidencial sobre a Situação de Calamidade Pública, em vigor desde o dia 09 de Setembro.
O aumento da "pressão" sobre os táxis e autocarros deve-se, essencialmente, ao facto de
os diferentes serviços sociais e económicos terem mais tempo para funcionar.
Se, há um mês, os mercados informais e venda ambulante funcionavam apenas terça-feira, quinta-feira e sábado, por conta da circulação comunitária do vírus em Luanda, hoje, o prazo de vendas alargou para 5 dias, arrastando mais vendedores e clientes às abarrotadas paragens.
De igual modo, muitos trabalhadores, em particular os pais que estavam em casa, porque têm menores de 12 anos sobre sua guarda, voltaram a exercer a sua actividade laboral, passando pelo "calvário" das paragens.
Logo pela manhã (06h00 até 09h00) e do meio da tarde ao começo da noite (15h00 até 19h00), as paragens ficam apinhadas de pessoas que ficam horas à espera de uma oportunidade para embarcar num táxi ou em autocarros públicos.
A falta do cumprimento das medidas de distanciamento físico, por causa da confusão nas paragens, é uma séria ameaça para os utentes destes meios, que ficam, cada vez mais, expostos à contaminação do coronavirus.
É factual que nestes difíceis ambientes de empurra-empurra, a maioria dos passageiros cumpre com as medidas de biossegurança, usando máscaras faciais e lavando as mãos.
Mas, em hora de ponta, altura em que os trabalhadores se aglomeram para ir ao trabalho ou regressar a casa, o cenário é deveras crítico. É um autêntico "salve-se quem pode".
Os taxistas aproveitam-se da situação e do facto de só ser possível, para os transportes públicos, levar 50 por cento da capacidade de passageiros, para encurtar as rotas e encarecer o preço.
Os taxistas que saem do município de Viana até à Avenida Deolinda Rodrigues, por exemplo, invés de continuarem a viagem até ao Mercado dos Congolenses, Distrito Urbano do Rangel, encurtam-na até ao ex-mercado da Estalagem.
Deste ponto seguem até à paragem da Frescangol e assim sucessivamente, levando o utente a pagar até, ao destino, cerca de 450 kwanzas, contra os 150 kwanzas habituais.
A mesma situação verifica-se no troço rodoviário Gamek/Golf-2, Benfica/Multiperfil, onde os taxistas repartem o percurso, fazendo, agora, as rotas Gamek/Lixeira/Golf-2, bem como Benfica/Futungo e Futungo/Multiperfil.
Face a este comportamento, conforme fonte da Unidade de Trânsito de Luanda, nos últimos dias mais de dez motoristas e cobradores foram levados a tribunal, para julgamento sumário, e pagaram multas por sobrefacturação.
A Associação dos Taxistas de Angola (ATA) mostra-se preocupada com a situação, pelo que criou brigadas de fiscalização e sensibilização contra tais práticas, que prejudicam sobremaneira a vida do cidadão.
O seu presidente, Rafael Inácio, desencoraja os promotores destas práticas (encurtamento de rotas), e adverte que os agentes da ordem estão a actuar de acordo com a Lei. Os reincidentes, além das multas, podem cumprir cadeia.
Autocarro Público
Quanto aos autocarros públicos, o Governo Provincial de Luanda, com o diagnóstico dos primeiros casos de Covid-19 no país, no final de Março deste ano, e a aplicação de medidas sanitárias para conter a propagação do vírus, introduziu no mercado 325 autocarros.
A maioria dos meios é novo e está sob responsabilidade de empresas privadas do ramo, com o fim de mitigar a carência de transportes.
No entanto, a demanda nas diversas rotas dos municípios da capital do país, designadamente Luanda, Cacucao, Viana, Cazenga, Talatona, Kilamba-Kiaxi, Belas, Icolo e Bengo e Quiçama, demonstra que, apesar do esforço, este número de frequência de autocarros é insuficiente.
O cidadão António Gonçalves, residente na zona do Sucupira, distrito urbano do Calwoenda, município do Cazenga, refere que o número reduzido de autocarro na via e a obrigação de transportar apenas metade da sua capacidade, em face das medidas sanitárias, está a provocar enchentes nas paragens, nas horas de ponta.
Para si, outra causa das enchentes é o facto de os autocarros que operam na linha Vila de Viana/Largo das Escolas (Distrito Urbano da Maianga/ município de Luanda) ficarem muito tempo no engarrafamento, na Avenida Deolinda Rodrigues.
A funcionária doméstica Josefa Sebastião explica que o número limitado de passageiros e a demora dos autocarros, até chegar à sua paragem na Bela Vista, Avenida Deolinda Rodrigues, tem criado muitos constrangimentos para chegar a horas no serviço.
Por sua vez, Alfredo Viegas, funcionário público, solicita que a Direcção Provincial dos Transportes de Luanda crie, com urgência, estradas de serviços exclusivos para os autocarros, a fim de possibilitar mais viagens nas rotas e levar o maior número de passageiros.
De acordo com o Decreto Presidencial nº229/20, de 8 de Setembro, que contêm as medidas excepcionais e temporárias a vigorar durante a Situação de Calamidade Pública, os transportes colectivos poderão atingir 75 por cento da lotação a partir de 1 de Outubro, tal como ocorre com as demais províncias do país.
Essa limitação de transportes e aglomerações nas paragens propicia o aumento do risco de propagação do vírus nas comunidades.
Sem comentários